segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

PRETO no BRANCO - por Vinícius Linné

"Ela mostrou. Ela mostrou um papel em que dizia que a casa toda era dela. E que eu tinha umas tantas horas pra sair de lá. Eu saí. Saí, né?! Saí porque se está escrito lá no papel, então é verdade. Se ela só dissesse, eu não acreditava não. Mas tava no papel. E era papel bonito, viu?! Com letra desenhada e tudo. Carimbo? Não, não tinha carimbo não. Sinatura? Sinatura é quando escreve com letra tudo junta, né?! Sinatura tinha sim. Era bem vermelha, coisa mais linda."


"A Maria Izildinha disse que tava escrito lá no livro. Tava no livro que ela leu na escola que no Japão o céu é embaixo. Coitadinhos dos japoneses, devem viver no mundo da lua. Por isso é que são tão avançado, né?! Queria eu na época dela ter ido pra escola. Eu ia saber daí dos japoneses e de tudo mais que tá escrito nos livro. Eles fazem os livro tudo contando o que existe, sabia? Outro dia ela tava lendo um cheio de ET, até me mostrou uma figura. Eita bicho zuiudo. No mínimo eles moram lá no Japão também. É tudo mesmo meio céu, né?"


"Mas é verdade! Tá até escrito! Deixa que eu vou pegar o papel pra você ver como que é verdade"


"Então escreve! Não, não, não. Negócio de promessa não me vale de nada. Palavra de homem só se bem escrita aqui no papel. Se eu tiver o papel escrito e tu não cumprir, depois eu posso ir lá na polícia e mostrar: tá aqui, ó! Tá escrito o trato todo. Escreve logo. E daí se eu não sei ler? A polícia sabe... a polícia sabe..."


"Escreve. Escreve tudo aí, seu moço. Escreve porque se a gente não tá escrito, a gente nem existe. Pelo menos foi assim que me falou o homem lá do cartório. Disse “Senhora, se não tem o papel dizendo que a menina nasceu, ela não existe”. Agora veja, a menina já tá quase criada, crescida e depois de tanto tempo parida nem gente é. Pra ser gente tem que tá escrito em algum lugar que se é gente, então escreve aí, seu moço: Ana Francisca Clementina das Almas existe. E é gente! Apesar de que não muito..."

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