Eu queria estar longe, toda distância ameniza a dor, mas estou ainda aqui.
De longe os números soariam números. A notícia seria triste, mas não imensa como é.
A comoção seria a mesma – uma das meninas posso dizer que vi crescer –, mas não haveria estas ruas cheias de sirenes com notas fúnebres. Não haveria a certeza de que o mesmo ar que agora respiro infeccionou-se de fumaça negra e letal a algumas quadras daqui.
As casas são tristes. A palavra “LUTO” se multiplica pelas ruas, os panos negros acenam nas janelas. Carros, gente, gritos, lágrimas mancham a cidade com nome de santa. A cidade pandemônio. A cidade inferno.
E só de pensar o quão pouco me colocaria naquela boate, estremeço. Um convite, um amigo, uma vontade súbita, uma coincidência qualquer e então a fumaça me consumindo também. E então os sinos aqui e lá em Tapera dobrando por mim.
Na verdade, não se pode pensar. Nem dizer ou escrever se pode. Não é esse o tom. O tom aqui é de minuto de silêncio. Minuto eterno, que congelou a vida toda de quem ficou. Dos pais, dos filhos, dos irmãos, dos amigos... Nenhuma vida voltará a andar. Tenho a impressão de que todos morrerão (daqui a anos) ainda nesse silêncio de sepulcro.
Respeitemos, então, o silêncio deles. E busquemos o nosso próprio. É no silêncio que as feridas se fecham. É no silêncio que os últimos rastros da fumaça somem. É no silêncio que podemos doer, enfim, até a dor amansar. Sim, amansar, porque a dor, ao contrário de nós, não morre jamais.
De longe os números soariam números. A notícia seria triste, mas não imensa como é.
A comoção seria a mesma – uma das meninas posso dizer que vi crescer –, mas não haveria estas ruas cheias de sirenes com notas fúnebres. Não haveria a certeza de que o mesmo ar que agora respiro infeccionou-se de fumaça negra e letal a algumas quadras daqui.
As casas são tristes. A palavra “LUTO” se multiplica pelas ruas, os panos negros acenam nas janelas. Carros, gente, gritos, lágrimas mancham a cidade com nome de santa. A cidade pandemônio. A cidade inferno.
E só de pensar o quão pouco me colocaria naquela boate, estremeço. Um convite, um amigo, uma vontade súbita, uma coincidência qualquer e então a fumaça me consumindo também. E então os sinos aqui e lá em Tapera dobrando por mim.
Na verdade, não se pode pensar. Nem dizer ou escrever se pode. Não é esse o tom. O tom aqui é de minuto de silêncio. Minuto eterno, que congelou a vida toda de quem ficou. Dos pais, dos filhos, dos irmãos, dos amigos... Nenhuma vida voltará a andar. Tenho a impressão de que todos morrerão (daqui a anos) ainda nesse silêncio de sepulcro.
Respeitemos, então, o silêncio deles. E busquemos o nosso próprio. É no silêncio que as feridas se fecham. É no silêncio que os últimos rastros da fumaça somem. É no silêncio que podemos doer, enfim, até a dor amansar. Sim, amansar, porque a dor, ao contrário de nós, não morre jamais.
Quem escreve a tristeza com beleza faz mais que rima absurda. Também amansa a morte, meu caro.
ResponderExcluirSer capaz de eternizar palavras. Ser capaz de, algum modo, no ofício de escrever, jorrar a vida e a morte. Um abraço em você.
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