"Calendar 2013" - Mina Braun
Nunca te escrevi uma
carta. Ainda tenho dúvidas se ao final, isso será uma carta.
Inquieta-me sua presença numérica e fria em minha vida. Nos últimos
anos você tem trapaceado sem disfarces. Finjo não ver sua apressada
ordem. Vivemos no istmo entre certezas e incertezas. Eu envelheço.
Você se renova. Somos assincrônicos e obstinados.
Na maioria das vezes
você é de papel. Na maioria das vezes sou de carne e osso. O que
nos sustenta é dúbio. Nossa natureza escorre líquida. Sem pausas.
Às vezes, precisamos de mais feriados para permanecer ilesos.
Sua gênese vem das
plantações. Minha gênese vem das guerras. Nunca fomos amigos.
Jamais seremos. Insisto para que desista das pontuações. Seguirei escapando pela tangente de seus números ordinais. Algumas de suas datas comemorativas sigo esquecendo.
Queria agradecê-lo
imensamente pelo nosso último duelo. Quando você e o médico sentenciaram a mãe, me transformei numa filha de ferro. Já não quebro tão fácil. Troquei de pele e pulso.
Renovei minha saliva. Sua rotação consertou meu eixo. Perdi o pouco
que sobrava da minha fé e conquistei o melhor dos lugares junto à
mesa da Santa Ceia. Tenho dividido pão e vinho comigo mesma. Insisto: desista de querer nos agendar.
Para terminar essa
carta - que já está longa demais – não podemos esquecer que sua origem é duvidosa. Você já foi romano, islâmico, teórico,
hebraico, misto, juliano, gregoriano. Eu continuo tendo
o mesmo nome, morando no mesmo apartamento e tendo a mesma
obstinação: envelhecer na tangente do seu incerto sentido. Sem mais. Sem
números. Adeus.
Meu, só lhe digo uma coisa: eu queria ter escrito isso.
ResponderExcluirEu também já quis ter escrito algumas coisas que você escreveu.
ExcluirPor hora, vamos dividir o cálice de vinho.
Beijos minha amiga.
MUITO BOM!!!
ResponderExcluirObrigada pela leitura e carinho!
ExcluirBeijos.
adeus, eu nem te conto mais. meus dias, não-dias... que diferença faz?
ResponderExcluirNenhuma! É apenas sentimento.
Excluirhttp://youtu.be/6VlC2Q7zo-Y
ResponderExcluirObrigada pela música. Eu me apaixonaria por ela todas as manhãs de todas as vidas... Ouvindo e ouvindo.
ExcluirHuck
Amei,amei ,amei essa coisa de "seguir escapando dos números".
ResponderExcluirLIndo,Si.
Ei companheira de sala, é você mesmo que faz companhia de seg á sexta no horário comercial no hmb : Sua gênese vem das plantações. haha :)
ResponderExcluirum link muito fera que achei, & lembrei de você: http://eumechamoantonio.tumblr.com/
um abraço bem gelado da sala que nos aquece semanalmente!