segunda-feira, 29 de julho de 2013

tERCEIRA ESTAÇÃO - por Vinícius Linné

Como se eu tivesse pedido uma passagem a Pasárgada. E como se me tivessem entregado de bom grado. Como se eu tivesse me apinhado no trem, tremeluzente de bagagens amarradas e malas de madeira. Como se o trem, de tanto chacoalhar, embalasse em mim um sono bom.

Como se a estação chegasse sem que eu visse. Como se o bilheteiro me sacudisse inteiro. "Senhor, senhor! Pode descer. É sua parada". Como se de ramela fresca e olhos baços eu descesse sem perguntar por nada, nessa minha ânsia maldita de jamais atrapalhar.

Como se eu tivesse reunido malas, gaiolas vazias e cachecóis vermelhos. Como se eu descesse. E só então - só então - me desse por conta: mas não é aqui! Como se o trem já tivesse se afastado depressa demais, cuspindo fumaça enquanto o bilheteiro se ria todo por dentro.


. . .


Como se essa fosse uma estação na qual jamais se quer parar. Como se a minha vida agora fosse essa, só isso. A terceira estação. A queda. A parada. Sempre igual. No meio do nada. Com a eterna sensação de "mas não é aqui."

Como se houvesse, em outro lugar, uma vida toda urgente e vazia de mim. Como se o trem nunca mais voltasse. Como se nenhum trem passasse novamente nessa estação em que eu, despreparado, fiquei.

Ah, Pasárgada. Ah, a vida. A outra vida. Quem me dera ter incomodado melhor. Ter perguntado, ter feito. Não o fiz. Fiquei. Fiquei e o longe é imenso para qualquer lado em que se olhe.

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