Nos momentos de graça as palavras fogem. Os olhos se
abertos vão virando água, se fechados, oração. Aconchego inerte que o dizer não
alcança, o passar do tempo medido em cafuné e roçar de rostos. Você abriu um
sorriso e eu quis acompanhar as flores que vingavam verdes no meu estômago. Inverno,
os nervos de aço vão derretendo em fios de cabelos longos sobre o edredom e o
atraso das horas. A casa é toda vontade de ficar, castelos de cobertas e
suspiros de sereias, quase uma cena de Almodóvar a luz do computador incidindo
nos teus dentes largos.
A cidade de São Paulo está fria, está vestida de flores,
as viagens marcadas aguardam voo, os homens cospem acordos trabalhistas. Na cozinha,
homens e mulheres se reúnem ao redor de miojo ou de lasanha, aipim ou sopa. As
mãos unidas. Por força do querer, o improvável acontece enquanto a gente é
sorriso e bem querer.
Eu não sei garimpar palavra para o calor de tuas
pernas querendo dormir, nem recortar o silêncio de teus ombros em minhas mãos. Não
quero um quadro para pendurar na parede, eu quero brincar de estar despida nas
tuas mãos.
Sem arremedo nem corrente, trançando meu corpo no teu,
as curvas que o teu riso desenha no meu rosto são sãs, lirismo de cheiro, de
vento frio nas tuas vontades.
Som de flauta doce desenharia, se alcançasse, o ritmo
que teu carinho cantou no meu pescoço, anúncio de paz no corpo todo.
A ordem do dia foi adiada, porque o calor cresceu em
carinho e violentou o dia, fez sol numa manhã cinzenta.
Xícara, pão, tapete, texto na tua pele, era conto ou crônica,
haicai ou provérbio chinês, não era, É.É poesia de Hilda, maçã de Raul.
O cachorro, o café, os carros, o relógio, tudo
anunciava a pressa dos horários e das coisas sempre esperando a gente, a vida
reta: de cortar as unhas, lavar a roupa, comprar as malas, fazer a inscrição.
Tudo apressava nossa preguiça de manhã, nosso espanto dos roteiros.
No ínterim, no intento, no tesão, no passo leve de tuas
pernas nas avenidas, nas ruas, na escada, no teu itinerário , que tudo seja a
graça que tua luz anuncia porque tua beleza é larga.
Eu falei, tua beleza é larga.
Larga.
Adoro a honestidade dos seus sentidos.
ResponderExcluirComo ler e não se enredar pelos seus escritos?
ExcluirComo ler e não se enredar pelos seus escritos?
ExcluirSempre que leio seus textos, fico mudo na sequência.
ResponderExcluirAh, Dilma. Sou alucinada pela sua escrita. É de uma beleza tão larga. Larga.
Bjs,
Huck