White paper - Emily Jones-Blachowicz |
Meus textos se apagam. No começo eu nem notava, são tantos e há tão pouco espaço na vida para eles. O que são palavras tolas escritas, afinal? Mas então eu percebi. A pilha de papéis nas gavetas, os rascunhos amassados nas caixas, as últimas folhas dos cadernos de contabilidade, tudo foi sumindo. Aos poucos. Bem aos poucos.
As letras se apagavam e, quando eu queria buscá-las, tudo que encontrava eram folhas quase vazias. Os desenhos ficavam. Os borrões também. Só as palavras sumiam. Elas eram como que absorvidas pela cor do papel, sem deixar marcas, como se nunca tivessem existido.
Eu falei para o meu psicólogo na última consulta. Eu falei tudo a ele. O que ele fez foi tentar encontrar um significado subconsciente, quase como se decifrasse um sonho. Não era sonho. Eu escrevi na frente dele. Uns versos simples. Pedi que ele guardasse no cofre. Ele guardou. Guardou com o enfado dos descrentes. Guardou para que eu me convencesse de que isso era impossível. Ontem ele me ligou.
A folha está em branco.
Ele pediu que eu não o procurasse mais. Ele diz que se me vir novamente, a polícia saberá que invadi seu apartamento, arrombei o cofre e tudo para trocar um mero papel. Tudo para enlouquecê-lo ou para convencê-lo da minha própria loucura.
Eu não tenho mais um psicólogo.
O que eu quero agora é me inscrever no texto. Profundamente, como fez a mulher morta. Ela fez para que sobrevivesse, para que pulsasse eterna. Eu quero fazê-lo para que eu possa sumir de vez. Como somem as minhas letras. Como somem as minhas palavras. Como tudo some quando você, meu caro, chega aqui para me roubar os restos de alma e depois publicá-los como seus.
Eu não tenho mais um psicólogo.
O que eu quero agora é me inscrever no texto. Profundamente, como fez a mulher morta. Ela fez para que sobrevivesse, para que pulsasse eterna. Eu quero fazê-lo para que eu possa sumir de vez. Como somem as minhas letras. Como somem as minhas palavras. Como tudo some quando você, meu caro, chega aqui para me roubar os restos de alma e depois publicá-los como seus.
seus leitores reconhecerão suas pistas, mesmo sem querer deixá-las a vibração do lápis no papel fica. serão marcas traduzidas em outras letras, mas serão suas. lindo texto.
ResponderExcluirQuem é esse ladrão que saqueia nossa alma? Onde dorme essa dúvida? Quando estaremos salvos dessas palavras todas?
ResponderExcluirReli seu texto. Madrugada e noite fria. Duas mesmas e boas impressões.
O ladrão sou eu. Foi um outro que fez o texto pra mim. ;)
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