quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

rENÚNCIA - por Simone Huck

Géraldine Georges

Havia sangue em todos os cômodos do pequeno apartamento. Havia sangue em sua roupa. Entre sua saliva. No meio das suas tranças e pernas magras. Havia sangue em suas lágrimas. No meio das coisas que não foram percebidas. Tudo fora tingido com a mais violenta intenção. Não; não queria fazer nenhum mal. Não havia ódio. Talvez houvesse o contrário disso: rastros de um hediondo amor que lhe secava a boca e os cílios. Precisava libertar-se e não sabia fazer de outra forma. A violência permitida pintava as paredes e o corpo e finalmente lhe trazia paz. Quando a alma grita, o corpo descansa. 

Um copo de vinho, ou de sangue, ou simplesmente silêncio. O vermelho era doce. Lembrava uma bandeira branca que a seu modo, declarava paz. Paz escorrida.

Naquela noite ela dormiria numa poça de sangue sorrindo. Quando ele entrasse pela porta do pequeno apartamento não teria mais dúvida de que era amor. Amor líquido.

Um comentário:

  1. Adoro seus escritos,Simone.
    De sangue ,de unha,de pó.Sua sintaxe,SUA.
    Parabéns.Um xero.

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