Parou de chover.
No bar vermelho com azul, as putas retomam seus acentos expositivos.
Há
fuligem no ar da cidade. O dia será quente e obsceno. Da janela do décimo
andar de um apartamento na Av. 9 de julho, olho todas essas cenas e
tenho a impressão de que a cidade não dormiu.
Insonia coletiva.
Admito minhas olheiras.
Prédios cinzas.
Pedras. Trens grafitados. Vozes ocas. Homens sem sombra. Mulheres sem
maquiagem. Gatos flagelados. Flores esburacadas. Todos sonados
trafegam em colisão pelas ruas tortas de uma cidade-labirinto. Só
as putas conseguiram dormir cinco minutos depois dos poucos
orgasmos que tiveram - se é que tiveram. A pele e o sexo têm pressa
de dinheiro. A saliva escorre na vontade coletiva do não saber, nem
estar. Queríamos tanto que o noticiário de nossas vidas anunciasse
HOJE o término desse circo.
Leio pensamentos coletivos.
Admito minha
vontade.
Na TV, a moça do tempo
não tem tempo de viver. Está no olho do furacão e nos braços da
tempestade. Daqui, de onde estou, o mundo já morreu mas ainda não
sabe.
Velório coletivo.
Admito que não sei onde foi parar minha alma.
O olhar individual de quem enxerga o coletivo.
ResponderExcluirOu seria o contrário?
Bela crônica urbana, quase suja.
Onde irão, de facto, parar as nossas almas...? Excelente crónica!
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