terça-feira, 2 de abril de 2013

rASGO - por Adilma Alencar.


A tentativa de alcançar seus símbolos me perturbou durante as primeiras semanas, eram tentativas estúpidas de recuperar os dias de desencontros. Eu li sobre aquela cantora inglesa, ouvi o álbum novo, eu continuo não gostando dela. Li as revistas que você esqueceu na minha estante, não gosto de ler sobre as tendências de cores de esmaltes para a próxima estação, joguei tudo fora.
Transei com aquele amigo que você morria de ciúmes, não foi por você, foi tesão mesmo.
Sei, agora, que você tem razão sobre meus ímpetos absurdos e minha afetividade efêmera. Comprei flores para uma desconhecida. Ela me falou dos sonhos que alimentava, ela quer ter um carro, um apartamento e viajar para a qualquer país europeu, eu vi com cansaço aquele rito clichê: drinque, cama e rua.
Ela parecia uma atriz, bonita e previsível dentro de uma cena, mas o clímax merecia um poema. Eu não sou poeta, eu ainda me  enrolo toda com as palavras, especialmente quando me cobram palavras.
Eu estou feliz, acredite.
Sexo todo faz muita falta, tanto quanto seu silêncio doce.
Não é são ser só, me disseram, sempre me dizem muitas coisas relevantes, às quais eu desconstruo e teimo .Burrice minha,burrice.
As noites frias são fantásticas, o vento que desce a consolação junto com os boêmios faz é canto de uma dor alheia e ressona o bafo quente dos moradores de rua.
Um homem lava a máquina de café, outro prepara uma caipirinha e limpa o chão onde um copo se repartiu em estilhaços.
Uma mulher escreve, risca a pele com um nome de homem, com um nome de filho.
Rasgo sua saia em mil pedaços, o som da viscose rasgando me acalma os nervos, eu não sei escrever sua pele, sua língua, seu desespero de madrugada, eu não sei escrever seu medo de sair às ruas, não sei forjar uma flor em ornamento, não sei violentar seu altar, nem cortar suas rosas vermelhas e vivas abandonadas no jardim, você perdeu a vida e ganhou meu desespero.
Você repartiu minha linguagem e matou o cotidiano, a manha.
Há  asas de um anjo sobre minha cama, morto com dois nãos e cinco cigarros.
Atravessei a avenida, dancei nas esquinas escuras e te desenhei em copos vinho.
Há mar para absurdos futuros, há mar.

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