segunda-feira, 15 de abril de 2013

"nÃO PERGUNTE POR QUEM OS SINOS DOBRAM" - por Vinícius Linné


Abro potes, tampas, garrafas. Quebro vasos, vidros, lâmpadas. Arrombo gavetas, baús e arcas. Esfrego a louça, os bibelôs e até as latas de café. 

Nada. 

Nenhum gênio aparece.

Nenhum que me realize um único e imenso desejo: ensinar-me a chorar.

Sozinho eu já não sei. Haveria menos lamento do que medo em mim? Sim, porque o medo é gigante. Medo de que uma lágrima, uma só, avulsa e fina, pudesse comprometer a represa inteira. Medo que essa lágrima fizesse as paredes se rasgarem e ruírem. Quem seguraria tanta água e tanta mágoa? Quem impediria que os vales todos ficassem submersos, as casas em ruínas, a alma toda afogada em um lodo qualquer? Se eu chorasse sozinho, quem diria a palavra mágica e salvadora capaz de acionar as comportas de emergência? Capaz de escoar o fel sem risco à vida – minha e alheia? Não há ninguém. Então chorar sozinho eu já não sei. O medo me compromete.

Para quem eu poderia chorar, então? Quem poderia me ensinar? E agora percebo que chorar eu saberia... parar é que não. Minha mulher? Não. Não porque convencionamos desde cedo que ela está apta a chorar, por toda e qualquer coisa, e a mim só cabe consolá-la, mesmo que meu vazio seja maior. Ela não suportaria, não tem experiência. Ela não saberia o que fazer ou como me cuidar. Ela não teria, sinto, força suficiente para me conter.

Meu pai, então? Como, encarando aqueles olhos d’água, poderia eu me confessar ainda mais fraco, ainda mais carente, ainda mais criança do que ele? Eu o faria chorar comigo. Eu faria do seu esforço em engolir o choro um esforço vão. Não. Na frente dele eu não posso chorar. Só o que posso é fingir não ver que ele luta contra as próprias lágrimas, só o que eu posso é olhar a parede enquanto ele seca o olho na manga da camisa e diz que não foi nada.

Minha mãe? Não foi ela que ouviu meu primeiro choro, mas foi, com certeza, quem ouviu todos os outros. Mesmo quando eles eram abafados na tolha, mesmo quando soterrados pelos travesseiros, mesmo quando disfarçados em ira e caos. Foi ela quem os parou, com compressas e conselhos e sarcasmos característicos. Ela poderia, eu sinto, tentar parar mais esse. Acalmar mais esse. Segurar, só mais esse... 

Mas como eu poderia chorar na sua frente, se é por ela que choro?

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