'two prostitutes' by *cellar-fcp |
Propagam-se as putas na calçada, literatas agora. É exigência do governo, coisa de nova lei. Para ser puta precisa saber escrever e fazê-lo de alguma forma. Algumas levam máquinas de escrever portáteis à mão. São putas vintage, românticas. Depois do sexo, sêmen ainda escorrendo nas pernas, elas colocam a máquina sobre o colo e a metralham docemente. Escrevem um conto ou dois, mal pontuados, e depois afixam em postes de iluminação pública, com a devida assinatura, numa ação quase que panfletária.
As putas mais baratas, aquelas comuns, as que fazem a coisa toda pelo dinheiro mesmo, escrevem em folhas de caderno pequeno. Escrevem com caneta bic e depois rasgam a folha e entregam para o cliente que, exasperado, amassa e joga na primeira lixeira – geralmente o chão – com medo de que a mulher encontre o relato ou conto.
Há putas poetisas com papeis de carta que cheiram a rosas – e cabelos que cheiram a cigarro. Essas são caras. Essas são as melhores formadas, as que cursaram mestrado ou algum doutorado até. Sabem a diferença entre um verso jâmbico e um helênico. O que de pouco serve. Não raro os clientes limpam o pau em seus poemas.
Há um outro tipo que com a popularização do acesso à internet tem se propagado como praga. A puta de blogs. Embora insistam que são todas diferentes, com estilo próprio e talento ainda não consagrado, não passam do tipo de putas que dão porque querem. Querem fama, querem fotos, querem filmes. Querem dinheiro e querem, acima de tudo, livrar-se do nojo que são os homens. E da maldição que é ter que escrever.
Logicamente, há ainda as dissidentes. As putas analfabetas. Vivendo escondidas, dando nas sombras, levantando a bandeira da ilegalidade que sempre honrou nossa ordem e progresso. Putas da resistência, elas negam-se à formação e ao sistema da escrita. Putas radicais e putas livres. Putas que mantêm o anonimato e que só transformam o cliente em protagonista do que acontece entre suas pernas. Putas muito procuradas, pelo que dizem, pelos literatos, cansados da concorrência das outras.
Gosto dessa literatura e dessa logística puta e letrada. Dessas consoantes que escorrem porra e das vogais que só pensam em voltar pra casa e dormir.
ResponderExcluirGosto de esperar um texto seu. Toda segunda há algo bom pra ler, muito bom.
Bjs,
Huck
Valeu, Huck.
ExcluirSua leitura é sempre de dar estrelas nos olhos.
A concorrência é desleal, ou não, pois seguem sua natureza.
ResponderExcluirGostei muito!
Abraços
Quem será que tem prazer maior?
ExcluirTexto lindo,Linné.
ResponderExcluirÉ sempre uma coisa boa ler seus textos . "Puta" é um mistério que eu gosto de pensar.
Um xero.
Mistério aberto.
ExcluirObrigado, Dilma.